sábado, 13 de fevereiro de 2010

CULTURA CONTEMPORÂNEA

Quando pegamos o jornal na hora do café, pela manhã, esperamos – e até mesmo exigimos – nos colocar a par de eventos importantes ocorridos desde a noite anterior. Ligamos o rádio do carro a caminho do trabalho e esperamos que haja notícia desde que o jornal da manhã esteve na rotativa. Ao retornar, à noite, esperamos que nossa casa não apenas sirva de abrigo e nos aqueça no inverno e nos refresque no verão, mas, que nos relaxe, nos dignifique, nos envolva com música suave e com passatempos interessantes, seja um lugar de lazer, um teatro e um bar.
Esperamos que nossas férias de duas semanas sejam românticas, exóticas, baratas e tranqüilas. Esperamos um clima de distanciamento se formos a um lugar próximo; e esperamos que tudo seja relaxante, higiênico e americanizado se formos a um lugar distante.
Esperamos o surgimento de novos heróis a cada estação, uma obra prima literária a cada mês, um espetáculo dramático a cada semana, uma rara sensação a cada noite. Esperamos que todos se sintam a vontade para descordar, embora esperamos que todos sejam fiéis, não ponham tudo a perder ou infrinjam o quinto mandamento.
Esperamos que todos acreditem profundamente em sua religião, embora não devamos menosprezar os outros por não acreditarem. Esperamos que nossa nação seja forte, grandiosa, vasta e variada, esteja preparada para todo tipo de desafio; entretanto esperamos que o nosso objetivo nacional seja claro e simples, algo que norteie a vida de 200 milhões de pessoas e, ainda assim, possa ser adquirido em forma de brochura na banca de revista da esquina por um dólar.
Esperamos qualquer coisa e tudo. Esperamos o contraditório e o impossível. Esperamos carros compactos, porém espaçosos; carros luxuosos, porém econômicos.
Esperamos ser ricos e caridosos, poderosos e compassivos, ativos e ponderados, gentis e competitivos. Esperamos ser inspirados por medíocres apelos pela excelência e instruirmos mediante ignorantes apelos pela instrução.
Esperamos comer e permanecer magros, manter constantes atividades, mas preservar cada vez mais a urbanidade, ir à igreja de nossa escolha e sentir seu poder direcionador sobre nós, honrar a Deus e ser Deus.
Nunca as pessoas foram mais senhoras de seu ambiente. Entretanto, nunca as pessoas se sentiram mais ludibriadas e decepcionadas.




Daniel Boorstin
Diretor do museu da história Americana

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